Você já parou para pensar em todo o sistema alimentar existente para que a comida chegue até as prateleiras do supermercado? 

Volte algumas casas antes da produção na indústria e imagine a contratação de pessoas, a preparação do solo, a possível perda de uma safra por conta do clima. São tantas variáveis para manter o funcionamento desse sistema que podemos chamá-lo também de ecossistema alimentar, já que todas as funções estão conectadas. 

Ao longo dos anos, com muito aprimoramento e uso de novas tecnologias, o sistema alimentar foi se adaptando. Não há como escapar da complexidade, mas com o domínio de técnicas agrícolas, conhecimento de mercado e análise sobre os consumidores, os desafios podem e vêm sendo superados.

Para entender o funcionamento desse sistema primordial para as pessoas e para a economia, continue a leitura. 

O que é sistema alimentar? 

Um sistema alimentar une os diversos processos e atividades necessários para a produção de alimentos, como uma teia. Nessa teia, todas as áreas são extremamente fundamentais, e quando uma delas não vai bem, todo o conjunto pode entrar em desequilíbrio. 

Dependendo das características do produto final, o sistema alimentar adota diferentes métodos, mas eles costumam ser organizados da seguinte maneira: 

  • Elementos naturais: terra, sementes, criação, bioma, clima 
  • Elementos sociais: pessoas, organizações, legislação, cultura, hábitos alimentares, estrutura
  • Sistemas centrais: mão de obra, investimentos, armazenamento, produção, consumo, pesquisa, recursos naturais, conhecimento, distribuição 

Como funciona o sistema alimentar?

Um sistema alimentar começa muito antes do plantio de sementes ou da criação de animais. É necessário considerar as condições dos elementos naturais, sociais e a estrutura dos sistemas centrais. Isso porque, se qualquer parte do sistema estiver em desequilíbrio, é possível comprometer toda a cadeia. 

Para entender o funcionamento do sistema, é preciso deixar de lado a ideia de que a união desses elementos formam um processo linear. Na verdade, o sistema alimentar é abastecido por diferentes áreas em diferentes momentos da produção, entre eles: sistemas agrícolas, de abastecimento, de fornecedores, de insumos, de comércio, de saúde, de gestão pública, de descarte e muitos outros. 

Em resumo, alguém planta ou produz, alguém gerencia e alguém transporta, alguém comercializa e fiscaliza, até que finalmente alguém consome. Mas, lembre-se, essa “teia” não é tão simples assim. 

O que o sistema alimentar cria?

O sistema alimentar é o principal responsável por sanar ou comprometer o acesso à alimentação no mundo todo. 

Sanar, quando bem executado, administrado com políticas públicas competentes e usando recursos naturais, visando atuar de forma sustentável. Comprometer, quando há desequilíbrio, seja causado por uma safra ruim, pelas mudanças climáticas, ou pelo erro humano. 

Dessa forma, uma má gestão financeira, o desperdício de recursos naturais ou até mesmo o descarte indevido de resíduos pode afetar todo o sistema. 

Além disso, os sistemas alimentares são responsáveis pela geração de empregos em cada um dos subsetores envolvidos na cadeia produtiva. As pessoas são parte fundamental do bom desenvolvimento do sistema, seja no campo, na logística, no transporte, no marketing, até a venda no supermercado

Os sistemas alimentares movimentam ainda grandes organizações e impactam o poder público. Exemplos disso é que garantir acesso à alimentação faz parte dos principais acordos mundiais, desde os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até as atitudes da ONU contra a fome. 

Quais são os impactos do sistema alimentar? 

Para analisar os impactos socioeconômicos de qualquer sistema alimentar, é necessário sair de uma ótica macro para um ponto de vista micro. Isso porque a alimentação das pessoas em cada canto do mundo é variada e os processos também ocorrem de maneiras diferentes. 

Muitos países, por exemplo, já apontam um aumento no número de pessoas deixando de consumir alimentos de origem animal. Nesse caso, não somente o mercado para o consumidor final precisa se readaptar, mas sim toda a cadeia. 

Quais são então os impactos negativos presentes na maior parte dos sistemas alimentares? 

  • Perda de biodiversidade ao transformar áreas de florestas em áreas de plantio
  • Contaminação da água por uso de agrotóxicos
  • Emissão de gases do efeito estufa em diferentes partes da produção, principalmente na criação de animais
  • Queima de combustíveis fósseis nos deslocamentos
  • Desperdício de recursos naturais 
  • Desperdício dos alimentos em si
  • Condições de trabalho inadequadas 

Quais são os impactos positivos dos sistemas alimentares?  

  • Adequação de técnicas agrícolas sustentáveis em equilíbrio com a biodiversidade
  • Valorização dos pequenos produtores rurais
  • Reúso de água e tratamento de resíduos
  • Operações logísticas capazes de levar alimentos para qualquer lugar
  • Aprendizado e melhor gestão de recursos naturais com uso de novas tecnologias 
  • Doação de alimentos
  • Capacitação profissional 

Desafios de um sistema alimentar sustentável

De acordo com um relatório apoiado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a organização Compassion in World Farming (Compaixão na Agricultura Mundial), os desafios mais urgentes para tornar os sistemas alimentares mais sustentáveis são: 

  • Estimular uma alimentação que priorize o consumo de vegetais na intenção de diminuir a emissão de gases do efeito estufa
  • Educar para um menor desperdício de alimentos, tanto na fase de produção, quanto no transporte e no consumo final
  • Aproveitar melhor as áreas já utilizadas pela agricultura, evitando a expansão e o uso de terras ainda não exploradas
  • Atender a demanda alimentar diante do aumento da população mundial, sem deixar de oferecer alimentos nutritivos
  • Usar as novas tecnologias como aliadas para uma produção que não cause tantos danos ao meio ambiente

Lembrando que, para ser considerado sustentável, um sistema alimentar precisa oferecer segurança nutricional sem comprometer, ou comprometendo o mínimo possível, os pilares econômicos, ambientais e sociais. 

Como apoiar um sistema alimentar sustentável?

Para estabelecer um sistema alimentar sustentável, diversas regiões do mundo vêm adotando estratégias que unem os potenciais do campo, do comércio e do poder público. A União Europeia, por exemplo, pretende até 2030 renovar seu sistema alimentar com uma série de metas chamada “Do Prado ao Prato”. 

Portanto, uma forma de apoiar um sistema alimentar mais sustentável é contar com o poder público trabalhando para tirar esse tipo de projeto do papel. 

Com mudanças na legislação é possível rever o uso de agrotóxicos nas plantações. Além disso, também é possível garantir uma fiscalização mais rigorosa na produção de alimentos de origem animal e fazer acordos para reduzir a emissão de carbono. Se tratando de emissões de carbono é possível até mesmo criar linhas de crédito para produtores e microempreendedores interessados em apoiar a sustentabilidade. 

Do ponto de vista do consumidor final, é possível apoiar um sistema alimentar sustentável, preferindo comprar do produtor local, conhecendo a origem dos alimentos consumidos e evitando desperdício. 

Para os produtores, cabe se atualizar: pesquisar novas técnicas de produção com menor impacto ambiental, buscar soluções tecnológicas para evitar o mau uso dos recursos naturais. Algumas atitudes devem ser revistas e readaptadas, como, por exemplo, as formas de preparo do solo, para não causar danos às nascentes e aos lençóis freáticos.

Como é o sistema alimentar no Brasil?

Do século XX até os dias atuais, o Brasil passou por mudanças em seu sistema alimentar devido ao crescimento do agronegócio e das novas técnicas agrícolas. As pessoas saíram do campo e deixaram de plantar os próprios alimentos, levando ao aumento de demanda nas grandes cidades. 

Ao longo desse período a industrialização também se intensificou, fazendo com que as pessoas consumissem menos alimentos in natura e mais industrializados. Com isso, as redes logísticas tiveram sua expansão para suprir as necessidades desses novos consumidores, atendendo também a um novo estilo de vida: as pessoas tinham e ainda tem cada vez menos tempo para cozinhar. 

Sabe-se que o Brasil é considerado o celeiro do mundo, porém, um dos grandes problemas enfrentados por nosso sistema alimentar é fornecer nutrição adequada para todos. 

Atualmente, o país encontra-se em situação de insegurança alimentar, agravada pelo período de pandemia da covid-19. Em virtude disso está buscando recuperação econômica e soluções sustentáveis capazes de equilibrar as necessidades do mercado e do meio ambiente. 

O que é considerado uma alimentação saudável no Brasil?

O principal documento sobre as características de uma alimentação saudável no Brasil é o Guia Alimentar Para a População Brasileira. 

O guia foi criado em 2006 com o intuito de fornecer as diretrizes sobre uma alimentação que englobasse as transformações sociais em nosso país. O documento descarta a pirâmide alimentar, dando lugar a opções de pratos e refeições para cada período do dia, considerando as riquezas e diferenças regionais. 

Entre combinações para o café da manhã, por exemplo, o guia sugere bolo de milho e melão, mas também cuscuz e banana, pão com queijo minas ou tapioca. As diretrizes do guia ainda falam sobre a importância da alimentação enquanto papel social e de sustentabilidade, para além da simples ingestão de nutrientes. 

O Guia Alimentar Para a População Brasileira é usado como base para a merenda escolar das escolas públicas, para a preparação das refeições em centros de saúde. Além de restaurantes populares voltados para a população vulnerável e diversos projetos empenhados em transformar o sistema alimentar brasileiro. 

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