Para entender o que é economia circular, podemos olhar para a atuação de duas empresas parceiras do Panela. Cada uma a seu modo, elas contribuem para uma cultura de sustentabilidade.
Por exemplo, a Restin Brasil atua conectando a indústria de alimentos ao food service. Ela rastreia produtos prestes a perder validade, que podem ser comercializados com valores reduzidos.
Assim, ajuda um lado a evitar desperdício, e outro a reduzir custos, gerando rentabilidade e economia para sua base de clientes.
Enquanto isso, a Conecta Verde oferece conteúdo, notícias e organização de eventos para a cadeia de produção de embalagens, com foco em sustentabilidade.
O trabalho dessas startups demonstra na prática o conceito de economia circular e por que ele é importante.
Portanto, para saber mais sobre o tema, continue lendo este artigo, em que explicamos a dinâmica da economia circular e muito mais. Confira!.
O que é economia circular?
Economia circular é um conceito que une desenvolvimento econômico a um melhor uso de recursos naturais através de modelos de negócios inovadores.
Também faz parte dessa compreensão otimizar processos industriais, priorizando insumos duráveis, recicláveis e renováveis para reduzir o uso de matérias primas virgens.
Luciano Almeida, CEO & Co-founder da startup Restin Brasil, define a economia circular como “um modelo de desenvolvimento econômico aliado a um melhor uso de recursos naturais”.
“A indústria é um ponto muito importante na cadeia do desperdício. Na Restin, a gente viu uma grande oportunidade de trabalhar destinando parte da produção para a cadeia de food service, recebendo alimentos próximos do vencimento que podem ser utilizados e comercializados,” conta.
No caso da Restin Brasil, a adoção das práticas de economia circular permite que empresas diminuam o prejuízo, enquanto evita o desperdício de alimentos.
A gestão inteligente de recursos e insumos beneficia tanto as empresas que remanejam esses alimentos quanto as que podem comprar ingredientes mais baratos. É um exemplo de economia circular.
Quando surgiu o conceito de economia circular?
A ideia de economia circular surgiu em 1989, através da publicação de artigos dos economistas e ambientalistas ingleses David Pearce e Kerry Turner.
Pearce e Turner buscaram inspiração em teorias anteriores, como capitalismo natural, blue economy e economia de performance.
Assim, demonstraram que o meio ambiente fica relegado a um papel secundário no capitalismo, de extração ou depósito de resíduos.
Essa visão, baseada simplesmente em extrair, produzir e descartar, é chamada de economia tradicional e linear.
Já o conceito de economia circular se inspira no padrão cíclico da natureza para adotar processos eficientes de gestão de recursos naturais. Tudo pensado em um escopo do desenvolvimento sustentável.
Por que é importante implementarmos a economia circular?
A implementação da economia circular é essencial para criar uma gestão mais eficiente dos recursos naturais. É importante que ela esteja inserida em um modelo econômico de desenvolvimento sustentável.
A intenção das empresas que praticam a economia circular em seus processos é desenvolver o bom uso de recursos naturais do ponto de vista econômico. Para isso, elas se guiam por boas práticas que podem incluir:
- menor dependência de matéria-prima virgem;
- priorização de insumos mais duráveis;
- utilização de materiais reciclados;
- desenvolvimento de produtos renováveis.
Ou seja, a adoção de práticas da economia sustentável é importante para a saúde do meio ambiente. Mas também visa a melhoria de produtos e serviços para consumidores, além de geração de lucro para cadeias produtivas.
Conheça os pilares da economia circular
A economia circular se baseia em três pilares bem definidos, a serem levados em consideração desde o começo do desenvolvimento do produto.
Seguindo esses princípios, a empresa garante vantagens para todos os envolvidos na cadeia produtiva, para a sociedade e para o meio ambiente:
Eliminação de resíduos e poluição
Para estar de acordo com esse princípio, as empresas precisam repensar e questionar suas cadeias de suprimentos e seu descarte de resíduos, que poluem o ar, a terra e a água.
Manutenção de produtos e materiais em uso
Uma empresa que atue dentro da economia circular precisa assumir o compromisso de usar com responsabilidade e inteligência os recursos finitos do planeta. Também é importante que seja dado valor a ações de reutilização e reciclagem.
Regeneração de sistemas naturais
Empresas da economia circular buscam preservar recursos naturais, ajudando na regeneração do planeta e diminuindo os efeitos da mudança climática.
Tanto o meio ambiente quanto a sociedade se beneficiam dessa cultura de sustentabilidade.
Quais são as etapas da economia circular?
A economia circular prevê etapas em comum com a economia linear, porém agrega uma fase de reaproveitamento.
Assim, a cadeia passa a ter um formato cíclico, que permite aproveitamento total de insumos com baixo impacto para o planeta.
Essa mudança introduzida pela economia circular leva em conta seis fases:
- Extração;
- Transformação;
- Consumo;
- Manutenção e reparação;
- Reutilização;
- Reciclagem ou tratamento para descarte consciente.
Desse modo, é possível transformar resíduos recicláveis em matéria-prima, ao invés de extrair novos recursos naturais.
As etapas de manutenção e reparação após o consumo preveem que materiais tenham uma vida útil longa, podendo ser reutilizados diversas vezes.
Já o descarte consciente (ou seja, com tratamento e em locais adequados) só é feito caso a primeira opção, a reciclagem, não seja mais possível.
Qual é a diferença entre economia linear e economia circular?
De modo geral, podemos tratar a economia linear como o modelo de negócios e produção tradicional e extrativista.
Normalmente é adotado pela maior parte das empresas que não têm, ainda, consciência profunda de sua responsabilidade ambiental.
Economia linear é o termo usado para quando não há gestão eficiente de resíduos, de controle sustentável de matérias primas ou de extração consciente de recursos.
Já a economia circular, ao contrário, considera as possibilidades de redução de impacto ambiental. Sem deixar de lado o potencial de crescimento econômico em todas as etapas do processo.
Economia circular no Brasil
O Brasil é um país que oferece diversas oportunidades para empresas que atuam na economia circular.
Entre os fatores que facilitam a adoção dessa cultura no mercado brasileiro, estão o conhecimento tecnológico e um parque industrial desenvolvido e diverso.
Esses aspectos criam condições para desenvolvimento de indústrias que atuem na diminuição do desperdício ou reuso de insumos.
Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria de 2021, mais de 70% das indústrias brasileiras já desenvolvem alguma iniciativa de economia circular.
Voltando ao exemplo da Restin, Luciano conta que o Brasil desperdiça cerca de 31 milhões de toneladas de alimentos por ano. Isso significa um prejuízo para a indústria alimentar de mais de 16 bilhões de reais. Isso sem contar o impacto na questão urgente da fome no país.
“A perspectiva de crescimento de uma economia circular no Brasil envolve o desenvolvimento de outras unidades de negócios, outras indústrias e cadeias logísticas,” explica Luciano.
Essa visão também se aprende pela troca de ideias e cocriação. Nesse sentido, a Conecta Verde atua fazendo a conexão entre players do setor, visando a difundir e construir os princípios da economia solidária.
Um case a destacar foi o Masterclass Economia Circular de Embalagens, organizado pela startup e realizado no Panela House, que debateu alternativas sustentáveis para o setor.
11 startups brasileiras que atuam na economia circular
A Restin e a Conecta Verde, como já explicamos acima, são startups brasileiras do setor alimentício trabalhando dentro do conceito de economia circular.
Mas elas não estão sozinhas nisso. Outras empresas que também fazem parte desse movimento são:
- Circular Brain: soluções para o mercado de eletroeletrônicos com gestão de ciclo de vida e rastreabilidade.
- SuperOPA: venda de produtos alimentícios, bebidas e remédios próximos ao vencimento direto para consumidor.
- B4Waste: soluções para evitar o desperdício de produtos através de venda com descontos.
- Luming: garante a alta performance de sistemas energéticos usando o que há de mais avançado em tecnologia.
- Rede Asta: conexão de nano empreendedores com oportunidades de geração de renda através de aproveitamento de resíduos pós-industriais e treinamentos.
- Tuim: empresa de locação de móveis para residências.
- Noah: greentech de solução civil para construção de prédios carbono-negativos
- Vertown: software de gestão de resíduos que lançamento de CO2 na atmosfera
- Greenplat: desenvolvimento de sistemas de gerenciamento de resíduos sólidos.
- Residuall: desenvolvimento e aperfeiçoamento de soluções de logística reversa para melhor descarte e reuso de lixo.
- OCTA: conecta frotas com centros de desmontagem veicular para facilitar a venda de veículos de baixa liquidez.
Quais os principais desafios da economia circular?
Mesmo que seja necessário e esteja ampliando cada vez mais seu alcance, o modelo de economia circular encontra dificuldades em sua adoção.
O principal desafio é a substituição gradual do modelo econômico tradicional linear, de “usar e jogar fora”.
Desenvolver novos modelos de negócios que agreguem valor ao produto/serviço oferecido enquanto age com responsabilidade ambiental e social. Esse é o principal desafio para empreendedores da economia circular.
Além disso, outros problemas enfrentados por startups que querem implementar processos de economia circular podem ser:
- Mudar o funcionamento de empresas tradicionais atuando na economia linear;
- Criar e seguir processos que requerem não apenas inovação, mas agilidade;
- Desenvolver confiança e garantir qualidade para stakeholders.
Veja algumas dicas de como aplicar a economia circular
Para Luciano, da Restin, ao aplicar o conceito de economia circular em uma empresa, é preciso seguir critérios de responsabilidade social, ambiental e econômica. Além disso, é necessária uma mudança urgente da mentalidade do funcionamento da indústria.
Algumas dicas do empreendedor:
- Cuidar para que as ações não “sejam espuma”, ou seja, que tenham impacto real e mensurável.
- Definir e acompanhar seus indicadores.
- Pensar e implementar ações vinculadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
- Definir KPIs de redução de desperdícios (de alimentos, insumos, energia, recursos).
Em resumo:
“É preciso acompanhar se a redução está realmente acontecendo e se não está, perguntar: por quê? A mudança de economia linear para circular deve estar dentro da política da empresa, fazer parte da sua cultura. As empresas de economia circular levam a sério seus pilares e fazem seu monitoramento através de KPIs, sempre vinculados a áreas de inovação”.
Sabe qual outro aspecto das nossas vidas onde a sustentabilidade está muito presente? A alimentação! Leia no blog Tá Fervendo nosso artigo sobre a importância da alimentação sustentável para nossa saúde e para a sociedade.