Você provavelmente conhece alguma foodtech, mesmo se não tiver certeza sobre o significado desse conceito.

Isso porque, embora recentes, essas empresas vêm ganhando cada vez mais destaque no mercado. No Brasil, só em 2021, R$ 386 milhões foram investidos em foodtechs. 

Mais do que uma tendência, as foodtechs são uma necessidade. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a população mundial poderá chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050. Isso significa que as formas de produção e consumo de alimentos precisam passar por transformações e melhorias para suprir as crescentes demandas – e é aí que as foodtechs entram.

Vamos entender melhor como isso funciona na prática? Apresentaremos, a seguir, alguns exemplos de foodtechs. Assim, você compreenderá quais são as características, desafios e oportunidades desse segmento.

O que é foodtech?

O termo foodtech é a junção de duas palavras em inglês: food (comida) e tech (tecnologia). Em outras palavras, indica uma empresa do ramo alimentício que utiliza a tecnologia para inovar os processos. Essa inovação pode estar focada na fabricação, distribuição, venda, consumo ou retorno (reciclagem). Tudo que ajuda a melhorar processos de produção e consumo de alimento tem a ver com a atuação das foodtechs

A partir de 2020, em decorrência das mudanças provocadas pelo isolamento social durante a pandemia de covid-19, as foodtechs cresceram exponencialmente. Um exemplo são os aplicativos de delivery, que otimizaram os processos de venda e entrega de alimentos em meio a um contexto social delicado.

Assim, o case dos aplicativos de delivery ilustra o objetivo das foodtechs: criar soluções inovadoras para facilitar o dia a dia de empresas e consumidores.

Onde uma foodtech atua?

As foodtechs podem atuar em qualquer segmento da cadeia de alimentos, que vai desde o fornecimento de matéria-prima até a logística reversa. Ou seja, há oportunidades de negócio antes, durante e depois da produção e do consumo dos alimentos.

Confira alguns exemplos de atividades em que tanto startups quanto foodtechs já consolidadas podem identificar gaps e propor soluções:

  • diversas etapas da produção agrícola
  • alimentação plant-based
  • melhoramento de alimentos na indústria
  • desenvolvimento de embalagens inteligentes
  • delivery
  • e-commerces e marketplaces
  • melhoria de processos em restaurantes
  • formas de descarte e reciclagem de resíduos e embalagens

Foodtech: quais são os impactos da tecnologia para o setor de alimentos?

Uma foodtech pode impactar o setor de alimentos de várias maneiras: com a otimização de processos, a redução de custos, o aprimoramento do processo de qualidade etc.

As tecnologias desenvolvidas por foodtechs também têm capacidade de gerar soluções sustentáveis – uma das principais preocupações da sociedade atualmente.

Outras questões importantes que podem entrar na área de atuação desse tipo de empresa são a segurança alimentar e o combate à fome. Em resumo, foodtechs contribuem diretamente para o bem-estar, a qualidade de vida e a praticidade no dia a dia de indivíduos, da sociedade e das empresas.

Quais são os benefícios de uma foodtech

As foodtechs pensam soluções e desenvolvem tecnologias que atendem necessidades específicas em diversos segmentos. Assim, essas empresas podem ter diversos benefícios tanto para o meio ambiente quanto para investidores e consumidores.

Os consumidores se beneficiam pelo acesso a serviços e produtos, como entregas ágeis, por exemplo. Além disso, podem encontrar refeições mais saudáveis e cardápios personalizados Se hoje pessoas veganas ou com restrições alimentares têm mais opções de alimentos à base de plantas ou adequados a suas necessidades, aí tem trabalho de foodtech. 

Para investidores, as foodtechs podem ser parceiras na otimização de custos, aumento de produção, economia na distribuição e até mesmo na redução de emissão de poluentes.

Muitas foodtechs estão na linha de frente da busca por soluções sustentáveis na produção e distribuição de alimentos. O crescimento do setor, em sinergia com a crescente demanda por soluções ESG, tem um impacto positivo também para o meio ambiente.

Quais são as principais categorias de foodtechs?

As foodtechs podem atuar em diferentes categorias, dentre os muitos segmentos do ecossistema alimentar. Confira, a seguir, exemplos de como como as empresas inovam em cada categoria.

Superalimentos

O termo é usado para se referir a alimentos funcionais e com alta capacidade nutricional. No geral, eles já estão presentes na dieta tradicional de diferentes regiões do Brasil e do mundo. Com a crescente preocupação das pessoas com a nutrição, aumenta a demanda por esse tipo de alimento, como os plant-based, algas e fermentados probióticos. 

Então, as foodtechs de superalimentos atuam otimizando a produção e o manejo desses alimentos, de modo que cheguem ao consumidor final como superalimentos. Isso pode significar tanto aumentar a produtividade, melhorar a produção orgânica ou reforçar certas características do produto, como sabor, textura ou valor nutricional.

Entrega
Foodtechs podem atuar tanto na cadeia de distribuição entre produtores e empresas, quanto na entrega de alimentos para consumidores. 

Um exemplo famoso é a LivUp, que cria e entrega produtos de alimentação saudável direto para o consumidor final. A empresa oferece o serviço por assinatura, com entregas de alimentos programadas direto em residências — formato recentemente adotado pelo iFood

No setor B2B, vale destacar a Cavena, um marketplace que simplifica o processo de compra de insumos para restaurantes, hotéis e dark kitchens.

Inteligência artificial

Aplicável em diversos segmentos do setor alimentício, a inteligência artificial é uma área de inovação com enorme potencial de estudo e desenvolvimento. 

A edição 2022 da CES, maior evento de tecnologia do mundo, trouxe um robô sobre rodas capaz de fazer entregas rápidas em distâncias curtas, controlado por inteligência artificial. Sistemas de inteligência artificial também podem ser utilizados na criação de novos alimentos e de apps de reeducação alimentar, como o Home Chefs.

Farm-to-table

As foodtechs conhecidas como farm-to-table, ou da fazenda para a mesa, são soluções que ligam a produção rural diretamente ao consumidor final. Isso se dá num contexto de valorização da produção local, o que também reduz custos com logística e diminui a emissão de poluentes.

Exemplos práticos são cestas montadas por produtores orgânicos e entregues diretamente em residências, caso dos produtos Raízs e InBox. Um mapeamento recente identificou pelo menos 16 foodtechs farm-to table atuando no Brasil, tanto para o consumidor final quanto para bares e restaurantes.

Gerenciamento de resíduos

Foodtechs também trazem inovações em um dos campos mais importantes da cadeia de alimentação, e pouco visto por quem não atua diretamente na área: o descarte de resíduos. 

Novas estratégias e abordagens têm sido propostas por foodtechs. O 12+, por exemplo, é um app voltado para estabelecimentos como bares, restaurantes e hotéis. Nele, é possível vender o excedente produzido ou com tempo de vida curto, gerando receita, diminuindo lixo e evitando desperdício.

Novos alimentos e bebidas

Nessa área destacam-se iniciativas para o desenvolvimento de alimentos sintéticos e novas fontes de proteínas plant-based, como a Goodside. Esse segmento é uma ótima oportunidade para foodtechs. Muitas vezes, a inovação gerada tem o potencial de tornar alimentos com grande valor nutricional acessíveis para populações em insegurança alimentar.

Outras categorias e setores com oportunidades para foodtechs são serviços de nutrição individualizada, higiene, rastreabilidade e atendimento ao consumidor.

Foodtech no Brasil: qual é o atual cenário?

Os investimentos recebidos por foodtechs brasileiras comprovam o cenário favorável para empreendedores do setor. Segundo o FoodTech Report 2022, que analisou mais de 300 startups do segmento de alimentos, os investimentos em foodtechs no Brasil ultrapassaram US$ 1 bilhão entre 2010 e 2021.

Os principais recursos estão concentrados nos setores de logística e gestão de dados, além de vendas, alimentação saudável e marketplaces. 

É importante destacar também como as inovações tecnológicas das foodtechs movimentam a pesquisa e o desenvolvimento de soluções em escala global. A pesquisa Research and Markets 2022 indica um crescimento de US$ 250,4 bilhões no mercado mundiall de tecnologia graças às foodtechs.

Foodtech: exemplos

Com o momento oportuno para os foodtechs, é cada vez mais expressivo o volume de investimentos no segmento. Abaixo, confira dois canais que estão se destacando no cenário brasileiro. 

SuperOpa – este é um marketplace que conecta o distribuidor com o consumidor que procura os melhores alimentos, a preços mais baixos. É possível conseguir até 70% de desconto nas compras.

O projeto tem como objetivo diminuir o desperdício de comida no país, pois evita que alimentos sejam desperdiçados em grandes mercados. Em outras palavras, o SuperOpa permite a compra de produtos excelentes, mas que não seriam vendidos em mercados comuns, pois estão com o vencimento próximo. O aplicativo funciona no Android e iOS.

Fruta imperfeita uma ótima opção de delivery de frutas e legumes. Os produtos, sempre frescos, não chegariam ao consumidor por seu aspecto estar fora do padrão estético do varejo. Por serem, por vezes,  menores ou maiores que os comumente encontrados nas prateleiras, esses produtos seriam descartados pelos grandes mercados. Entretanto, são alimentos de qualidade e podem ser consumidos. A foodtech atende às necessidades de consumidores e dos vendedores ao oferecer alimentos mais baratos e evitar desperdício.

Dicas de gestão para foodtechs

Redução de desperdício, otimização de logística, melhorias na relação com o consumidor e acompanhamento correto de métricas são alguns pontos de atenção ao definir estratégias de gestão. 

Confira outras estratégias importantes:

Usar dados: sistemas de business intelligence, que permitam a coleta e análise de dados, facilitam a tomada de decisões e são essenciais ao lidar com serviços e produtos inovadores, com escassez de dados pregressos. O correto acompanhamento e aplicação de informações ajudará a empresa a encontrar soluções específicas. Assim sendo, é possível entender as preferências de seus clientes, criar campanhas e compreender os impactos de decisões tomadas.

Não ter receio da automação: sistemas de inteligência artificial podem ser usados para estabelecer e acompanhar protocolos em serviços (por exemplo, em startups de produção e entregas de alimentos). Além disso, também servem para gerenciar sistemas de estoques e atendimento ao consumidor.

Avaliar as tendências de mercado: por seu constante crescimento no mercado, as foodtechs oferecem novas oportunidades para empreendedores criativos, mas esse também pode ser um cenário com excesso de oferta em um mesmo serviço. Se você está pensando, por exemplo, em criar um app de entrega de produtos farm-to-table, vale acompanhar as startups que já atuam nesse segmento específico. Ou seja, será mais fácil identificar como e onde elas funcionam. Feiras de tecnologia e inovação como a CES são enormes fontes de informações (e, claro, ideias) para apontar novos caminhos a serem desbravados.