Você já ouviu falar em lean startup? E histórias de empresas que começam com um plano de negócios incrível e acabam falindo antes mesmo de engrenar? 

Então, uma coisa é praticamente oposta a outra. Afinal, foi justamente para diminuir o risco de histórias de startups natimortas que a ideia de lean startup surgiu. 

O empreendedor Eric Ries participou de muitos fracassos empresariais no Vale do Silício. Até que compreendeu que o erro não estava no desenvolvimento do produto em si. Eureka: era preciso rever o modelo de administração dessas novas empresas.

Foi então que ele reuniu os aprendizados das experiências mal sucedidas com modelos teóricos em ascensão e sistematizou uma nova metodologia: a lean startup. 

Desde então, começar um empreendimento com uma versão mais enxuta tem sido cada vez mais comum e recomendado no mundo das startups. Vamos entender mais sobre essa proposta?

Neste artigo, vamos ver:

O que é lean startup?

Entenda como a metodologia lean startup funciona

Qual é a diferença do lean startup para outros métodos tradicionais? 

Qual é o impacto do lean startup nos negócios?

Ciclo lean startup: conheça suas 3 etapas

5 princípios da uma lean startup de acordo com Eric Ries

3 vantagens da aplicação eficiente do lean startup

Exemplos de boas práticas  de lean startup

Novos modelos de ensino com lean startup

Dicas de como aplicar o modelo lean startup

 

O que é lean startup?

Lean startup é uma metodologia enxuta e ágil para criar e gerir uma nova empresa.

Consiste em pôr hipóteses à prova antes de fazer investimentos grandiosos em estrutura de empresa e desenvolvimento de produtos. Assim, você pode ver se a sua ideia de fato atende a uma necessidade real do público-alvo.

Nas palavras de Steve Blank, teórico e empreendedor em série no Vale do Silício, colocar a metodologia lean em prática é como sair do prédio (get out the building). Ou seja, ir pra rua e testar um modelo mais básico do plano de negócios junto aos potenciais clientes.

Aliás, Blank é um dos mentores de Ries na elaboração do conceito de lean startup

Vem dele a noção de customer development (desenvolvimento do cliente), que prega justamente que os produtos sejam desenvolvidos junto ao público interessado. 

Essa ideia é fundamental para a aplicação da lean startup, como veremos mais adiante no texto.

Lean startup: significado

Lean vem do inglês e significa enxuto. Assim, o termo Lean startup pode ser traduzido como startup enxuta. 

Mas o que isso significa? No empreendedorismo, lean é evitar desperdícios de tempo e dinheiro. 

O termo não é o novo no mundo da administração. A filosofia lean foi desenvolvida na Toyota na década de 1950! 

Até hoje, ela guia processos industriais robustos e é adotada por grandes empresas já em operação em busca de melhoria constante e de maior eficiência.

Ao adaptar o pensamento lean para pequenos novos negócios, Eric Ries transformou essa filosofia em uma metodologia. 

O objetivo: evitar desperdícios, principalmente nessa fase inicial em que ainda não se tem certeza do interesse do cliente.

Entenda como a metodologia lean startup funciona

Enquanto o modelo tradicional aconselha um amplo plano de negócios baseado em teorias e histórico do setor, a lean startup prega começar com mais ação. 

Porém, isso não significa colocar o negócio na rua de qualquer jeito. Existe um planejamento mínimo necessário para apresentar sua ideia e consolidar os aprendizados. Os passos se apoiam em algumas metodologias conhecidas:

  • Modelo de negócio Canvas: 

O Canvas é uma forma resumida de um plano de negócios. Consiste numa tela com 9 campos (é possível fazer online ou num quadro com post-its): 

  1. Proposta de valor: o que a empresa oferece para o mercado e que agrega valor aos clientes.
  2. Atividade-chave: quais são as atividades essenciais para que seja possível entregar a proposta de valor
  3. Segmento de clientes: público que a empresa almeja atingir
  4. Canais: como chega aos clientes
  5. Relacionamento com clientes: como interage com eles
  6. Parcerias principais: atividades que podem ser realizadas por terceiros
  7. Recursos principais: o que é preciso para realizar as atividades-chave
  8. Fontes de receita: como rentabilizar a proposta de valor
  9. Estrutura de custos: os custos necessários para funcionar
  • Mínimo Produto Viável (MVP)

Como o nome sugere, o MVP é como um protótipo, a versão simplificada do produto a ser testado e melhorado a partir de feedback do público.

O objetivo é maximizar a eficiência dos recursos, assegurando o melhor retorno possível. 

Para isso, é preciso trabalhar a criatividade e idealizar uma versão simplificada do produto ou serviço que será comercializado, atendendo a todas as necessidades do cliente.

  • Customer Development: 

Consiste no desenvolvimento e aprimoramento do MVP junto aos potenciais clientes. O feedback deles será essencial para rever seu Canvas ou até seu produto antes do lançamento oficial. 

Em síntese, ele tem como objetivo evitar que você baseie seu produto em suposições. 

Para isso, busca-se aplicar um método científico para construir um produto que verdadeiramente atenda às necessidades reais dos clientes.

  • Metodologias ágeis: 

O uso de metodologias ágeis garante o processo de revisão para melhoria constante.

As metodologias ágeis têm como objetivo principal aprimorar a agilidade nos processos, possibilitando entregas em menor prazo. 

Por fim, o foco está em melhorias contínuas e no alinhamento eficiente da equipe.

Qual é a diferença do lean startup para outros métodos tradicionais? 

O mundo da inovação é muito ágil, e o modelo lean startup acompanha essa agilidade, principalmente pela capacidade de adaptação a contextos não previstos. 

Assim, a principais diferenças são:

Antes do lançamento: nas startups tradicionais se tem um produto e modelo de negócios totalmente prontos antes de apresentar ao mercado. Na metodologia lean, valoriza-se a cocriação com o cliente. 

Flexibilidade: o modelo de negócios no Canvas é mais fácil de alterar do que um longo documento baseado em experiências e crenças possivelmente ultrapassadas.

Custo: a metodologia lean requer um custo de investimento inicial bem menor em relação ao método tradicional. Assim, reduz o risco de prejuízos ou até falências precoces.

Qual é o impacto do lean startup nos negócios?

Apoiando-se em processos lean, é possível gerar aprendizados rápidos baseado na experiência real com o cliente. Com isso, evita-se o engessamento do plano inicial.

Afinal de contas, nada pior do que um ótimo plano de negócios e um produto super bem acabado, mas que não interessa a ninguém, não é mesmo?

A partir desses primeiros testes e trocas com os clientes, é possível rever, pivotar ou corrigir eventuais falhas das hipóteses iniciais.

Ciclo lean startup: conheça suas 3 etapas

O ciclo da lean startup se baseia em três etapas básicas: construir, medir e aprender. Tudo isso de forma ágil. 

Construir – Com o início do Canvas, a espinha dorsal do plano de negócios, é hora de traçar o MVP e apresentar um modelo da sua solução ou produto a seus clientes potenciais. 

Medir – É preciso medir o impacto a partir de métricas relevantes. Aqui é importante reunir feedback quantitativo e qualitativo (atende ou não uma necessidade, o que falta para atender, o quanto estaria disposto a pagar pela solução etc.). 

O autor destaca ainda a importância de não se deixar levar pelo que chama de métricas de vaidade. Exemplo disso são as curtidas nas redes sociais e notas em jornal. Para o Ries, isso não necessariamente se converte em negócio e desvia a atenção do que realmente tem impacto.

Aprender – De posse desses dados e aprendizados, é hora de voltar para o Canvas e para o MVP para uma próxima rodada. 

Leia mais:

Vai apresentar seu MVP a um potencial cliente ou investidor? Aprenda a fazer um bom pitch e impressionar mesmo nas fases mais iniciais

5 princípios da uma lean startup de acordo com Eric Ries

O empreendedor Eric Ries, fundador do movimento que popularizou essa metodologia, reuniu cinco princípios fundamentais para implementar a lean startup. Confira:

Empreendedores estão por toda parte!

Isso é importante para desmistificar a ideia de que startups são criadas apenas por estudantes universitários ou cientistas mega criativos em uma garagem. 

Em vez disso, Eric Ries diz que todas as pessoas que têm uma ideia de produto e capacidade de colocá-la em prática podem se tornar um empreendedor. 

Apesar de simples, esse é um lembrete importante para não desperdiçar oportunidades de investimentos.

Empreendedorismo é gestão e administração

Não basta ter uma ideia de produto ou mesmo saber confeccioná-lo. O empreendedorismo requer a habilidade de administrar recursos para tornar a operação replicável e rentável. 

Numa startup enxuta, isso significa não desperdiçar recursos e tomar decisões de forma ágil. 

Aprendizados precisam ser validados

Antes do negócio existir efetivamente, o que o empreendedor tem são apenas hipóteses. Por isso, Eric sugere que essas hipóteses sejam testadas com rigor científico. 

Essa validação acontece por meio de testes para aprender mais sobre seus clientes, sobre o mercado e também sobre o seu produto. 

Construir – Medir – Aprender

Como visto no tópico das etapas, aqui está o cerne da lean startup e das metodologias ágeis. 

Pensar uma ideia, fazer um ou mais protótipos e colher feedback com os potenciais clientes.

Contabilidade para inovação

É preciso traçar metas consistentes para cada etapa e acompanhar se há evolução. 

O que queremos aprender/descobrir em cada teste? Para quantos clientes vamos apresentar o MVP? Que respostas buscamos?

3 vantagens da aplicação eficiente do lean startup

Com essa metodologia, é possível direcionar a startup para um progresso assertivo. Além disso, com base no feedback do MVP, o lean startup traz diversos benefícios, como:

Desenvolvimento de equipe ágil

Para seguir um processo sustentável e enxuto, é fundamental saber administrar os recursos disponíveis.

A lean startup adota um método de trabalho mais dinâmico e econômico, diferentemente do tradicional.

Isso resulta em um ambiente cada vez mais colaborativo, com entregas rápidas.

Utilização de KPI

O uso de métricas é um dos grandes aliados dessa metodologia.

Através dos indicadores-chave de desempenho (KPIs), podemos acompanhar de perto o rendimento de cada uma das estratégias e iniciativas implementadas pela empresa. 

Dessa forma, facilita a tomada de decisões sobre quais ações precisam ser modificadas ou o que está funcionando.

Ênfase na melhora contínua

É preciso buscar evolução constante a cada dia.

Com esse tipo de abordagem, é fundamental compreender os erros e identificar o melhor caminho a seguir. Do mesmo modo, aprimorar o trabalho para alcançar sempre os melhores resultados.

Resiliência e empenho são a chave do progresso.

Exemplos de boas práticas de lean startup

Através da aplicação dos valores e etapas que compõem a metodologia, os resultados tornam-se notáveis, proporcionando destaque à sua startup.

Muitas startups que seguiram esse modelo podem servir como bons exemplos para inspiração em seus próprios processos.

Vamos conhecer algumas delas?

Novos modelos de ensino com lean startup

Nos Estados Unidos, o projeto School of One tem permitido desenvolver novos modelos de ensino adaptados às necessidades específicas de cada aluno. 

O modelo, adotado por algumas escolas em Nova Iorque e Chicago, usa algoritmos de aprendizagem para mapear as deficiências e os pontos fortes. 

Traça-se um um plano individual de estudos a ser aplicado diariamente. Isso pode ser feito em grupos, em duplas, individualmente, e com professores de forma presencial ou virtual.

O site oficial da metologia cita outros exemplos internacionais de startups de tecnologia que adotaram o lean de forma bem-sucedida, como a DropBox.

Mas temos bons excelentes cases em casa também, como a Turivius, a Pickcells e a Luming Energy

Melhorando pesquisa judicial para clientes

Startup da área jurídica, a Turivius otimiza a pesquisa jurisprudencial para clientes, adotando as práticas da metodologia descrita por Eric Ries. 

O livro é, inclusive, leitura obrigatória no onboarding das lideranças. Afinal, a condução de testes diários que identificam melhores práticas é o que garante um crescimento acelerado”, revela Danilo Limoeiro, CEO da Turivius.

O CEO explica: “Na prática, isso significa que, ao desenvolver nossa tecnologia, o time garante iterações constantes no produto com base em feedback dos usuários ativos. Assim como adapta o produto às constantes mudanças no cenário competitivo e estratégico da empresa. Já a análise das etapas em funil pelo time de crescimento é o que garante o diálogo e a resolução de problemas interdisciplinares entre marketing e vendas”.

Lean startup aplicado em geração de energia limpa

Startup especialista em gerar energia limpa a partir de resíduos orgânicos, a Luming faz isso se ajustando às necessidades de cada cliente. 

Líder de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Luming, Izabelly May conta como a empresa utiliza os conceitos de Lean Startup nas rotinas de trabalho.

As soluções Luming de redução de custos e de emissões de CO2, através da geração de bioenergia e bioprodutos, a partir do aproveitamento energético e biológico de resíduos, têm múltiplas rotas possíveis.” 

“Dessa forma, cada projeto acaba sendo desenhado de forma única, em termos de arranjo tecnológico, modelo de negócio e atuação junto ao cliente”, explica.

May ainda lista mais benefícios da metodologia:

“O foco obstinado em resultado, eficiência e assertividade, atrelado a um time enxuto e de alta capacidade, aceleram rotinas diárias de mapeamento e levantamento de hipóteses de soluções em trocas constantes entre a Luming, os times dos clientes e de fornecedores.

Esse processo no qual as hipóteses são derrubadas ou validadas e mantidas a quatro mãos. 

Isso acelera e otimiza a construção de conhecimento, aumentando a assertividade do desenvolvimento das soluções, dos projetos e, consequentemente, dos resultados finais.”

Dicas de como aplicar o modelo lean startup

Limoeiro acrescenta mais uma dica a partir da experiência da Turivius:

“A principal aplicação de Lean Startup que temos na Turivius é uma adaptação do conceito de MVP, ou Minimum Viable Product. Aqui utilizamos o MVBP, ou Minimum Viable Business Product.”

 Nesse caso, além do produto ser viável, ele também tem que ser bom o suficiente para que alguém pague para usá-lo. É esse ponto a que o “Business” se refere.”

Então, sempre que vamos desenvolver um produto ou um módulo novo, a definição de sucesso é fazer uma venda desse produto ou módulo. Assim, garantimos que o produto resolve tão bem uma dor do usuário que ele está disposto a pagar por essa solução. 

Mas essa solução, em uma primeira versão, deve ser a mínima. Com isso, a startup não desperdiça seus recursos escassos desenvolvendo features que não têm valor comercial.” 

Depois de apresentarmos os princípios e etapas mais importantes da metodologia lean, vale reforçar 3 dicas pra finalizar:

  • Estude técnicas científicas de teste de hipóteses e de validação de aprendizados
  • Não foque apenas no produto ou apenas no modelo de negócios: pense na sua startup como um todo
  • Ouça todas as pessoas envolvidas: além dos clientes, colaboradores podem trazer insights importantes!

Algo muito importante para a startup enxuta é a prospecção de clientes. Eles podem não só adquirir seu produto ou serviço, mas também ajudar na cocriação dele. Leia aqui: Prospecção: qual é a melhor forma de conquistar novos clientes?