As metodologias ágeis, ou agile methodologies, são métodos de desenvolvimento e organização que têm como objetivo otimizar processos, seja dentro de uma grande empresa ou em projetos individuais.

Elas podem ser especialmente úteis para startups, que normalmente contam com times pequenos para desenvolver e entregar produtos rapidamente. Além disso, ajudam a lidar de forma mais eficiente com mudanças conjunturais repentinas – econômicas ou até de saúde pública. Afinal, torcemos para que não haja nada assim, mas se houver, saberemos responder rapidamente.

Laila Drumond, analista de Agilidade em Nestlé, que atua promovendo a cultura ágil junto aos times de trabalho, reforça a importância de desenvolver mentes:

“As metodologias ágeis nos proporcionam diariamente desenvolver mentes para criarem soluções inovadoras, nos permitindo avançar no processo de transformação digital e na construção de uma nova relação entre o negócio e o consumidor, mantendo o foco no valor gerado.”

O que são metodologias ágeis?

“Metodologias ágeis”, é o nome dado a diferentes métodos de organização e otimização de projetos. Existem diversas metodologias ágeis, cada uma com suas particularidades, vantagens e desvantagens.

Em comum, todas se baseiam na criação e na administração de ciclos de trabalho. Esses ciclos têm como princípio roadmaps que visam a melhor gestão do tempo e a visualização de funções e cronogramas por todo o time.

Algumas das metodologias ágeis mais conhecidas e adotadas são Scrum, Kanban e Lean. Mais adiante neste texto, você encontra a definição de 7 delas. Além dessas,  é bastante comum que empresas tenham seus próprios métodos ou adaptações.

Daniela Guedes, da PickCells, usa o Scrum no dia a dia e está muito satisfeita com o impacto.

“Eu não vejo como trabalhar sem uma metodologia ágil, em especial uma empresa de soluções de software que precisa de constante organização e planejamento, como a nossa“.

Segundo o  relatório da State of Agile divulgado em 2020, as metodologias ágeis são adotadas tanto por companhias com mais de vinte mil funcionários quanto por empresas com menos de mil. 

Também chamados de agile, os métodos são utilizados principalmente por empresas de tecnologia e finanças. 

Ainda no mesmo relatório, 70% dos entrevistados que utilizam alguma metodologia ágil dizem que o maior benefício é a habilidade de identificar as prioridades de projetos. 

Outro benefício apontado pelos entrevistados é a melhora na visibilidade de projetos e no alinhamento entre negócios e desenvolvimento. 

O Manifesto Ágil

Criado em 2001, o Manifesto Ágil reúne os princípios fundamentais aplicáveis a todos os tipos de metodologias ágeis. 

O documento foi elaborado por profissionais da área de tecnologia da informação buscando soluções para entregas mais rápidas e eficientes de projetos. Ali está destacado:  a equipe é a parte mais importante de qualquer empreitada. 

A partir desse princípio, é possível dizer que as metodologias ágeis priorizam pessoas antes de ferramentas e sistemas. 

Além disso, o Manifesto Ágil destaca a importância da entrega do produto em funcionamento, mesmo que seja por partes, em relação a uma documentação extensa e finalizada. 

A consequência é uma maior participação do cliente com a equipe, com trocas, sugestões e esclarecimentos.

Outro princípio essencial das metodologias ágeis é trabalhar em ciclos rápidos de desenvolvimento. A ideia é testar, observar e analisar alterações necessárias antes da próxima etapa.

Como as metodologias ágeis funcionam?

A intenção de todo método ágil é otimizar processos e reduzir o tempo de entrega de projetos com garantia de resultado final. 

As metodologias normalmente são dinâmicas, adaptáveis e multidisciplinares, buscando melhorias contínuas e autonomia entre times. 

Toda metodologia ágil terá processos, papéis e objetivos bem definidos, que podem ser aplicados a diferentes situações — por exemplo, criar road maps, identificar stakeholders ou definir metas. 

Isso é feito a partir da capacidade do time de identificar e traçar estratégias fluídas, processos colaborativos, com papéis bem definidos e responsabilidades compartilhadas.

Por que adotar metodologias ágeis?

Normalmente, a adoção de metodologias ágeis vem da necessidade de satisfazer um cliente com entregas contínuas ou de instituir um processo de trabalho mais ágil. Isso vale para uma empresa, projeto ou equipe

Para Daniela, da PickCells, o Scrum é essencial no dia a dia: 

Aqui a gente consegue, por exemplo, dizer com segurança para um investidor ou cliente quando uma funcionalidade será entregue, isso graças ao road map criado com o backlog da metodologia.”

Algumas razões para adotar uma metodologia ágil na sua empresa

  • Ter ganho de agilidade em novos processos ou em resoluções de problemas;
  • Administrar a necessidade de múltiplas entregas;
  • Melhorar a integração entre times;
  • Otimizar os processos de criação entre diferentes áreas de um mesmo projeto;
  • Integrar clientes e desenvolvedores;
  • Identificar e reduzir riscos.

6 benefícios das metodologias ágeis

Independentemente do modelo adotado, todas as metodologias ágeis têm a mesma intenção: otimizar processos. Então, adotar uma metodologia ágil no dia a dia de sua empresa pode trazer uma série de benefícios: 

  1. Identificar e administrar mudanças de prioridade;
  2. Melhorar a visibilidade de processos e atividades;
  3. Melhorar o alinhamento entre diferentes áreas;
  4. Melhorar a estipulação de cronogramas e prazos;
  5. Aumentar a produtividade dos times;
  6. Criar motivação entre os envolvidos através da apresentação de resultados.

Daniela dá outro exemplo do que a metodologia ágil pode fazer pela sua rotina de trabalho a partir de um sistema dual track, facilitado pelo Scrum:

Eu, que sou da área de experiência de usuário e design, preciso passar um protótipo para um desenvolvedor front-end, que vai preparar sua parte e então mandar para um desenvolvedor back-end, que é quem vai desenvolver as funcionalidades. Esse processo precisa ser organizado para que eu não trave o front-end e que esse não trave o back-end. Então, na hora de fazer o planejamento, o agile é a nossa salvação, a gente sempre planeja o design sempre duas sprints antes do dev.”

Pilares das metodologias ágeis

O Manifesto Ágil determina quatro fundamentos principais das metodologias ágeis:

  1. Indivíduos e interações acima de processos e ferramentas;
  2. Software funcionando acima de documentação abrangente;
  3. Colaboração com o cliente acima de negociação de contratos;
  4. Priorização das mudanças acima do plano estabelecido.

É importante lembrar que o conceito de metodologia ágil tem muito a ver com o universo de TI. Durante muito tempo ele foi mais aplicável em sistemas de desenvolvimento de software. 

Mas esses quatro pilares sempre podem, de alguma forma, ser adaptados a outros contextos também.

7 principais tipos de metodologias ágeis

Cada método tem características próprias, mas, em geral, sempre seguem princípios definidos no Manifesto Ágil e têm a intenção de otimizar processos. 

Os métodos ágeis podem ter objetivos diferentes. Alguns são usados para gestão de projeto, enquanto outros são focados em métricas de produtividade. Há ainda os voltados para entrega de software, e os que buscam integrar diferentes áreas de uma mesma companhia.

Scrum

É a metodologia ágil mais utilizada no mundo, adotada por mais de 50% das empresas que usam algum sistema agile segundo pesquisa.

O Scrum foi criado basicamente para gerenciar projetos de desenvolvimento de software.  Porém, essa  metodologia baseada em sprints pode ser aplicada a qualquer contexto que envolve um time com um objetivo comum e com papéis bem definidos.

Em geral, o Scrum traz um dono de produto (ou de projeto) que representa o cliente ou o usuário final e que determina funcionalidades junto ao time. É a partir dessas definições que se cria uma lista de prioridades (ou backlog) e a distribuição de tarefas.

Uma vez definidos, time e tarefas atuam em sprints — intervalos de tempo de desenvolvimento de até quatro semanas. 

No final de cada sprint, cada time para e faz uma revisão do que foi realizado (ou deixou de ser realizado), analisa o que precisa ser adaptado, feito ou refeito, e traça os passos do próximo sprint. 

Esse processo é repetido até que todo o backlog esteja concluído e o produto, ou projeto, esteja pronto para entrega. Dentro da PickCells, o Scrum funciona em sprints de duas semanas:

“Na primeira segunda-feira, a gente faz o planejamento com toda a empresa para apresentar o objetivo geral da sprint. Em seguida, separamos as squads de dev, produtos, pessoas da área de saúde e ciência de dados. Depois, planejamentos as User Stories, assim sabemos o que cada um tem que fazer até o final da sprint. Na primeira sexta-feira, nós temos o que chamamos de refino, para analisar o que foi feito até ali e ver se algo precisa mudar, refazer ou replanejar. E, então, na última sexta-feira, nós apresentamos a Demo, para compartilhar os resultados e entender como avançar na sprint seguinte.”

Em paralelo, os squads fazem Daily, reuniões diárias rápidas, com no máximo 15 minutos de duração. Nesses momentos, o time faz um update do que cada integrante está trabalhando e quais são as demandas do dia.

Kanban

Kanban é um sistema simples e versátil que pode ser aplicado para praticamente qualquer tipo de projeto e qualquer tamanho de time, inclusive projetos individuais. 

A ideia é criar um quadro de tarefas com visibilidade geral e que traga as responsabilidades passadas, imediatas e futuras de todos os envolvidos.

Esse quadro pode ser físico ou virtual (como o Trello, bastante completo, ou listas de tarefas como Get Things Done) e em geral tem três colunas:

  • TO DO: todas as tarefas a serem realizadas durante um projeto ou período
  • DOING: o que está sendo realizado, e por quem e por quanto tempo
  • DONE: tarefas que já foram finalizadas, validadas e estão entregues 

O Kanban é muito adaptável, mas para que funcione deve contemplar toda a equipe e ser acompanhado em tempo real e atualizado constantemente. 

Um quadro Kanban desatualizado ou subutilizado acaba sendo tempo perdido. Idealmente, tenha uma pessoa responsável por mantê-lo em funcionamento, como um/a Gerente de Projetos.

Lean

Traduzido como “enxuto”, o Lean tem como foco identificar e eliminar desperdícios dentro de uma organização ou projeto. 

A ideia é mapear e alocar apenas os recursos necessários para cada tarefa, diminuindo complexidades, reduzindo custos, otimizando tempo e aumentando a produtividade.

O criador do Lean, Eric Ries, autor de “A Startup Enxuta”, reforça as vantagens de trabalhar com MVPs (Minimum Viable Product, ou Produto Mínimo Viável) antes de executar um projeto de forma completa. 

O método permite uma versão funcional e simples para que empresas possam validar suas ideias antes de investir esforço em um produto final e completo.

O Lean é bastante popular entre startups de diferentes modalidades, justamente por ser adaptável a formatos que precisam de agilidade.

Smart

É fácil entender o conceito do Smart pelo nome: é um acrônimo para specific, measurable, attainable, relevant e time-related, ou, em português, específico, mensurável, realizável, relevante e temporal. 

A ideia aqui é determinar metas realizáveis para projetos – coletivos ou individuais – utilizando-os de acordo com os adjetivos a seguir.

  • Specific: a meta deve ser clara e específica.
  • Measurable: a meta deve ser quantificável, de preferência com objetivos exatos e numéricos.
  • Attainable: a meta deve ser alcançável, mesmo que desafiadora, sempre considerando o prazo e as condições.
  • Relevant: a meta deve ter algum impacto para o projeto ou empresa.
  • Time-related: a meta deve ter um prazo máximo de realização bem definido.

Para facilitar a execução do time, os objetivos, prioridades e tarefas são divididos em sprints com aplicação do Smart. Essa metodologia de planejamento é uma forma de pensar que pode ser usada em diferentes decisões de um processo. 

eXtreme Programming (XP)

Bem popular entre startups de tecnologia, o eXtreme Programming, XP abreviado, é um método de trabalho em equipe desenvolvido por engenheiros de software como Ron Jeffries, autor de What is Extreme Programming

O método propõe valores e práticas que incentivam a comunicação e eliminam tempo ocioso. Com isso, facilita processos de desenvolvimento e fortalece as relações entre funcionários e clientes.

O XP segue cinco valores essenciais:

  • Comunicação, que deve ser frequente e adequada visando a compartilhar conhecimento.
  • Simplicidade, que deve garantir eficiência e foco.
  • Feedback, que deve orientar a otimização do produto e a busca de resultados
  • Coragem, para comunicar problemas, dar e receber feedback e tentar novas abordagens.
  • Respeito entre todos os integrantes do time.
  • Mudança, realizar alterações, sempre de acordo com as sugestões dos clientes.

Esses valores são aplicados em uma série de práticas que podem variar de acordo com a escala e dificuldade de cada projeto, mas que em geral são:

  • Whole Team, ou time único
  • Planning Game, ou jogo de planejamento
  • Customer Tests, ou testes de aceitação
  • Small Releases, ou pequenas fases de lançamento
  • Simple Design, ou desenho simples
  • Pair Programming, ou duplas de programação
  • Test Driven Development, ou desenvolvimento guiado por testes
  • Refactoring, ou aprimoramento
  • Continuous Integration, ou integração contínua das áreas
  • Collective Code Ownership, ou propriedade coletiva do código
  • Coding Standard, ou padronização de códigos
  • Metaphor, ou metáforas de linguagem
  • Sustainable Pace, ou ritmo permanente de desenvolvimento

Feature Driven Development (FDD)

Abreviado FDD, em inglês, o Desenvolvimento Guiado por Funcionalidade é um método ágil de desenvolvimento de software criado no final dos anos 1990 pelo estrategista de tecnologia da informação Jeff De Luca

A ideia do FDD é dividir as tarefas em funcionalidades, de forma a diluir e organizar os sistemas de trabalho. De acordo com a proposta, isso é feito seguindo cinco princípios:

  • Desenvolvimento de modelo abrangente;
  • Construção de lista de funcionalidades;
  • Planejamento por funcionalidade;
  • Detalhamento por funcionalidade;
  • Construção por funcionalidade.

Esses princípios fazem com que cada tarefa, descrição, teste e alteração exijam sempre o menor esforço e tempo, dando agilidade ao processo.

Microsoft Solutions Framework (MSF) For Agile Software Development

Criada nos anos 1990 a partir de um conjunto de boas práticas de desenvolvimento de softwares da Microsoft, o MSF Agile tem como princípios:

  • Acompanhamento constante do cliente;
  • Visão compartilhada pela equipe;
  • Verificação e prevenção constante como garantias da qualidade do trabalho;
  • Agilidade e flexibilidade para novos desafios;
  • Fluxos contínuos de compartilhamento de informações;
  • Mudança e adaptação constante para alcance de resultados.

Como escolher uma metodologia ágil?

Agora que você já conhece as particularidades de diferentes tipos de metodologias ágeis, você pode escolher qual se aplica melhor ao seu projeto ou a sua empresa.

Alguns pontos para considerar ao fazer essa escolha:

  • Qual é o processo de implementação?
  • Qual metodologia cria maior colaboração entre equipe e cliente?
  • Qual valor de treinamento investido?
  • Qual oferece mais flexibilidade?
  • Qual agrega maior valor ao projeto ou a empresa?
  • Qual o nível de inovação que a metodologia traz?

Como implementar o uso de metodologias ágeis em uma startup?

É importante enxergar a implementação de uma metodologia ágil em duas etapas. 

  1. Adequação: ter uma estratégia de transformação para adequar a cultura da empresa e motivar os envolvidos na mudança. Tenha líderes de processo bem definidos, e determinem prazos. Nessa etapa também é interessante oferecer treinamentos adequados para que todas as equipes estejam corretamente capacitadas.
  2. Transição: culturas e processos não mudam de um dia para o outro. Considere o tempo para a implementação total da metodologia escolhida. Pense a fase de transição como um período híbrido, de testes e acertos, para entender o que funciona ou não. 

Com todos os envolvidos devidamente treinados e cientes dos objetivos a serem alcançados, é possível fazer o lançamento propriamente dito. Aí sim, a metodologia ágil começará a ser incorporada para valer dentro da empresa. Em pouco tempo, já será possível avaliar os primeiros resultados. Que sejam ótimos!

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